Quem nunca se sentiu tímido ao chegar numa festa sozinho, ou ficou um pouco ansioso ao falar em público ou conversar com o seu superior no trabalho? Com certeza, muitos de nós, já sentiu certo grau de ansiedade ao se deparar com estas situações.
Somos um pouco tímidos ou mesmo inseguros em certos ambientes ou diante de pessoas que não conhecemos. Embora seja normal ficarmos pouco à vontade nessas ocasiões, vencida a inibição inicial, a tendência é irmos aos poucos nos soltando, ficando familiarizados com o ambiente e entrosando com as pessoas.
Porém, existem indivíduos que fogem dessas experiências como “o diabo foge da cruz”. Ficam apavorados só de imaginar a possibilidade de viver tais momentos e chegam ao extremo de evitar qualquer contato social. Coração acelera, suam frio, tremem, sentem tonturas, gaguejam, sensação de desmaio…
Quando isso acontece, será apenas timidez ou algo mais?
A timidez pode ser considerada como o desconforto ou inibição em situações de interação pessoal. Caracteriza-se pela preocupação com as atitudes, reações e pensamentos dos outros. A timidez é um padrão de comportamento em que a pessoa não exprime (ou exprime pouco) seus pensamentos e sentimentos e não interage ativamente. Embora não comprometa de forma significativa a realização pessoal, constitui-se em fator de empobrecimento da qualidade de vida.
Podemos considerar a timidez como um acanhamento, ou um embaraço diante de situações sociais. Porém quando essa ansiedade começa a limitar o indivíduo em suas atividades profissionais e social podemos pensar num Transtorno de Ansiedade Social (TAS), ou como é mais conhecido, uma Fobia Social.
De acordo com o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o transtorno de ansiedade social (TAS), caracteriza-se por um medo irracional, persistente e intenso de uma ou várias situações sociais ou de desempenho, nas quais o sujeito está em contato com pessoas não familiares ou exposto à eventual observação atenta de outrem. A ideia de ser confrontado com tais situações provoca uma significativa ansiedade antecipatória pelo receio de agir de forma humilhante ou embaraçosa. O medo de situações sociais leva a pessoa a evitá-las para não se deparar com uma situação antigênica ou até aversiva.
A essência do TAS é o medo de ser avaliado negativamente pelos outros. Esse medo é que torna qualquer situação social repleta de ansiedade. As situações mais temidas são: falar em público, comer e beber na frente dos outros, utilizar um banheiro público, entrar numa sala onde já existam pessoas sentadas, falar com estranhos, participar de reuniões sociais, interagir com o sexo oposto, lidar com figuras de autoridade, devolver mercadoria numa loja ou manter contato visual com pessoas não familiares.
Numa situação social, o indivíduo com TAS, acredita que irá comportar-se de forma inadequada e, como consequência, será rejeitado ou desacreditado. Ele vê a situação social como perigosa e essa avaliação de perigo irá ativar um “programa de ansiedade”, que envolve reações cognitivas, fisiológicas e comportamentais.
Frases como estas são frequentemente ouvidas por nós psicólogos quando atendemos pacientes com essas dificuldades:
“Toda vez que tenho que apresentar um trabalho na faculdade fico apavorado! Tenho medo de ser ridículo, de me dar “um branco”, de esquecer tudo. Sofro a semana inteira e na véspera desta aula não consigo dormir. Se puder, falto na aula.”
“Para ir a uma festa e reunir-me com o pessoal preciso tomar duas cervejas. As mãos suam frio e só depois de beber eu tenho coragem.”
“Cada vez que um garoto se aproxima eu tremo e passo mal. Meu coração dispara, eu suo sem parar e não vem nada à minha cabeça. Não consigo arrumar um namorado e não aguento mais a solidão.”
As pessoas com transtorno de ansiedade social desejam ter um bom desempenho, comparecer a um encontro. No entanto na hora do compromisso, as palavras não saem, o coração dispara e tudo acontece diferente do desejado. O medo, a ansiedade, a fuga, podem interferir acentuadamente na vida profissional, académica, social da pessoa, prejudicando sua vida.
Neste sentido, diferencia-se muito da “timidez comum”. O grau de sofrimento de que tem TAS é muito grande, e elas precisam de ajuda para aprender a lidar com seus medos e preocupações.
Na terapia, é fundamental que estes pacientes aprendam como controlar os sintomas físicos da ansiedade através de técnicas de relaxamento; a desafiar os pensamentos negativos e prejudiciais que acionam e alimentam a ansiedade social, substituindo-os por pensamentos mais funcionais; que aprendam a enfrentar as situações sociais temidas de forma gradual e sistemática, entre outras técnicas que são bastante úteis para quem quer se libertar deste sofrimento.