Todos nós passamos ou vamos passar por momentos difíceis em nossas vidas… isso é fato! Mas o que nos deixa intrigados é porque algumas pessoas passam por grandes dificuldades ou mesmo tragédias e mesmo assim conseguem se superar e voltar a sua vida normal, enquanto outras às vezes passando por situações igualmente difíceis, ou bem menos complicadas, e mostram-se frágeis, como se tivessem enorme dificuldade para se recuperar de qualquer dor ou frustração?
“Em meio às dificuldades estão às possibilidades”, declarou Albert Einstein! Muitas pessoas que já superaram uma situação adversa compartilham dessa visão. E cada dia mais, pesquisadores buscam compreender aspectos que podem fortalecer o psiquismo e ajudar as pessoas a lidar e vencer seus sofrimentos.
Para descrever essa capacidade de recuperação psíquica, o psicólogo americano Jack Block, da Universidade da Califórnia, recorreu a um termo da física chamado resiliência.
Essa palavra tem origem no latim resilire e significa “saltar para trás” ou “ricochetear”. Na física podemos exemplificar como aqueles materiais que apesar de terem suportado carga extrema, sempre retornam ao seu estado natural, como as espumas dos mousepads. Mesmo que você os dobre, amasse, logo em seguida o objeto volta a sua forma antiga.
Na psicologia, este termo foi incorporado para definir a capacidade do indivíduo de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, como situações traumáticas, estresses, etc, sem entrar em surto psicológico.
Os resilientes são aquelas pessoas que passam por dificuldades, como todo mundo, só que a reação delas não é igual a da maioria das pessoas. Por mais forte e traumática que sejam as dificuldades, elas superam. E nós nos perguntamos como elas conseguem?
A psicologia começou a estudar a resiliência, quando especialistas notaram que, após terremotos, enchentes, violências e guerras, algumas pessoas conseguiam superar os traumas com mais facilidade do que outras, como se a cada obstáculo se tornassem “vacinadas” contra os próximos. Por que isso acontecia?
O sociólogo Antonovsky (1979), desenvolveu uma tese de que o senso de coerência, que varia de uma pessoa para outra, é formado por três componentes: o sentimento de compreensão de determinada situação, o entendimento do que pode ser alterado naquele contexto e a relevância. Para o pesquisador, quem pode recorrer a esses recursos mentais, tende a se manter saudável, apesar das frustrações inerentes à vida. Segundo ele, para as pessoas com um forte senso de coerência o mundo parece menos hostil e assustador, pode ser assimilado, mesmo em ocasiões nas quais surgem problemas e tudo ao redor parece desorganizar-se (por exemplo, quando perdemos um emprego, temos uma doença grave). Por isso, para as pessoas com um senso de coerência mais aguçado, a vida não parece um fardo e sim um desafio – e não perde a relevância, apesar das dificuldades.
Outro fator importante percebido pelos pesquisadores são as relações dos pais com seus filhos e dos professores com as crianças. Quem é tratado desde cedo com respeito e carinho e recebe limites claros do que deve ou não fazer, tem mais chances de se tornar uma pessoa equilibrada.
Segundo Haim Grunspum, psiquiatra e estudioso do assunto, a infância é a melhor fase da vida para se desenvolver esse dom. Mas não se desesperem, também podemos aprender a ser resilientes quando já estamos adultos.
Se você não nasceu assim, se você é do tipo que se abate até porque não te convidaram pra festa que você nem queria ir, ou fica se corroendo porque o vizinho passou direto por você e não te cumprimentou. Ainda assim dá pra desenvolver resiliência, dá pra aprender a ser flexível e superar.
Na neuropsicologia existem vários estudos que mostram que nosso cérebro tem a capacidade de se modificar continuamente. Ou seja, temos uma capacidade de renovação contínua, podemos melhorar sempre é só saber como usar essa capacidade.
Sempre nós deparamos com pessoas que pensam assim ”agora não dá mais tempo, já estou velho” ou “depois que eu passei por aquele trauma fiquei muito machucado, nunca mais vou me recuperar”. Recupera sim, o ser humano tem uma capacidade incrível de se superar! Mas se está difícil conseguir isso sozinho, procure ajuda! O psicólogo é um profissional que pode te ajudar a lidar com suas dificuldades.
Para encontrar novas formas de lidar com a vida, o pesquisador George Souza Barbosa (2006) defendeu sua tese apresentando a resiliência como um amálgama de sete fatores: Administração das Emoções, Controle dos Impulsos, Empatia, Otimismo, Análise Causal, Auto Eficácia e Alcance de Pessoas. Estes sete fatores foram selecionados por serem bem concretos, e podem ser aprendidos no processo terapêutico.
Em vez de ficar se colocando com vítima, ou se perdendo em pensamentos negativos, imaginando o pior, mude sua atenção, pensamentos e esforços na busca de soluções.
Muitas vezes não podemos mudar uma situação, muito menos o nosso passado, mas podemos mudar como pensamos, como falamos, e como agimos. Essa nova atitude faz toda a diferença.
E como escreveu Carlos Drumond de Andrade, “A dor é inevitável. O sofrimento, opcional”.