A química da paixão

Quem nunca se apaixonou? Ou pelo menos conhece alguém que está apaixonado? Quando estamos neste estado de enamoramento, ficamos num estado de graça, meio aéreos, dispersos… tudo nos lembra a pessoa amada, um cheiro, uma música… ficamos mais felizes, mais corados.

E será que existe diferença entre amor e paixão? Acredita-se que amor e paixão são sentimentos distintos, embora com frequência confundidos. A paixão é sem dúvida a que causa mais mudanças na rotina da pessoa. Perturba as relações cotidianas, pois é um sentimento mais impulsivo, mais intenso.

No filme ”Perdas e Danos” podemos exemplificar isso. Um homem que ocupa importante cargo no governo e feliz com a família dá uma guinada dramática na sua vida ao se apaixonar pela noiva do filho. Ele se entrega a esta paixão avassaladora, mesmo sabendo os enormes riscos que estava correndo.

A paixão faz com que diversos gatilhos cerebrais iniciem reações físicas em nosso corpo. É esse “coquetel” químico, ativado pelas diversas glândulas, que faz com que fiquemos com o rosto corado, mãos suadas e com a respiração alterada.

Diversas alterações químicas e fisiológicas estão presentes quando estamos neste estado de paixão. E de acordo com alguns neurocientistas, essas alterações são semelhantes à do vício por alguma droga, como a cocaína por exemplo.

No livro “Sexo, amor, endorfinas e bobagens”, a autora Cibele Fabichak, define este estado de êxtase com prazo para acabar; no máximo quatro anos. E também cita“ as três fases do amor”.

Segundo a autora, do ponto de vista biológico, há três estágios independentes. O primeiro é o desejo ou luxúria, a busca da satisfação sexual, comandada por hormônios sexuais, principalmente a testosterona, sem uma elaboração emocional maior. O segundo estágio é o do amor romântico ou paixão, da atração física e sexual. Esta fase é marcada por uma cascata de substâncias, como noradrenalina, endorfina, serotonina, e também testosterona, estrógeno e progesterona. O terceiro estágio é o da construção gradual do vínculo duradouro, o amor propriamente dito. Nesta fase há a ação do hormônio oxitocina na mulher e vasopressina no homem, os hormônios do vínculo.”

No estágio do amor, a liberação destes hormônios afeta tanto o corpo como o cérebro, pois provoca reações de generosidade, aproximação e de confiança interpessoal, fundamental para criação do vínculo entre os casais. Mas não necessariamente precisa acontecer as três fases em todo relacionamento, e nem necessariamente com a mesma pessoa.

No filme “O amor é cego”, conseguimos identificar esse sentimento de amor, de cumplicidade. Nele, Hal é um homem que segue à risca o conselho de seu falecido pai e apenas se interessa por mulheres que tenham um físico perfeito. Mas tudo muda quando ele por acaso se encontra com Anthony Robbins, que o hipnotiza e faz com que ele apenas possa visualizar a beleza interior das mulheres, em detrimento de seu físico. Sem saber que está sob o efeito de hipnose, Hal então se apaixona por Rosemary, uma mulher obesa que é vista por ele como se fosse uma verdadeira deusa. E vemos o encanto, a cumplicidade existente entre os dois, algo característico do amor.

E é interessante essa mudança da percepção de como vemos a pessoa amada. É claro que no filme houve a brincadeira da hipnose modificando a percepção do nosso personagem. Porém, uma pesquisa realizada na Universidade Estadual da Flórida, nos Estados Unidos, comandada pelo psicólogo Jon Maner, verificou o quanto o sentimento de paixão pode alterar nossa atenção e percepção.

Os pesquisadores fizeram um estudo para medir a atenção de 113 homens e mulheres, que foram expostos a fotos de pessoas lindas (e outras não tão bonitas). Metade dos voluntários tiveram de escrever, antes da experiência, um pequeno texto falando sobre o amor que tinha por seu parceiro. A outra metade fez uma redação genérica, sobre felicidade. Em seguida, as fotos foram exibidas – com os olhos dos voluntários monitorados por um computador. Quem tinha escrito (e pensado) em amor e lembrado do parceiro, passou a ignorar as imagens de pessoas bonitas, seus olhos simplesmente não se fixavam sobre as fotos. E essa rejeição só acontecia com as fotos das pessoas mais bonitas; com as imagens de pessoas comuns, não havia diferença.

Segundo os cientistas, isso acontece porque, quando as pessoas pensam em amor, seu neocórtex passa a repelir pessoas muito atraentes (que são tentadoras e têm mais chances de levar alguém a praticar uma traição). É como se fosse uma defesa do nosso cérebro para nos manter fiéis.
E é interessante pensar como nosso corpo, nossa mente altera quimicamente quando estamos amando, ou apaixonados. E engana-se quem pensa que a paixão é pré-requisito para um relacionamento bem sucedido.

A maioria das paixões amadurece, transforma-se em amor e segue em frente. Mas também há casais que se relacionam muito bem, são companheiros e cúmplices, sem nunca terem passado por essa fase eufórica da paixão.