Pânico e Agorafobia

João é um professor de 30 anos, casado com dois filhos. Quando perguntado sobre seu problema ele o descreve como “eu tenho medo de sair de minha casa e dirigir meu carro”.

O problema do paciente começou há aproximadamente um ano. Na época, ele estava dirigindo através de uma ponte que deveria atravessar todos os dias para ir trabalhar.

Enquanto estava dirigindo no meio do tráfego, ele começou a pensar em como seria terrível sofrer um acidente naquela ponte. Seu pequeno carro poderia ser esmagado como uma lata de alumínio, e ele poderia morrer depois de sentir muita dor, ou ficar aleijado por toda a vida. Seu carro poderia ser arremessado fora da ponte e cair no rio.

Ele ia pensando a respeito dessas possibilidades e foi ficando muito ansioso. Olhou para os carros que estavam atrás e na sua frente e ficou com muito medo de que pudesse bater em um deles. Sentiu uma onda de pânico tomar conta dele. Seu coração ficou acelerado, começou a ter dificuldades de respirar. Começou então a respirar mais e mais fundo, mas isso aumentou a sensação de sufocamento. Sentiu um desconforto no peito e começou a pensar que estava tendo um ataque cardíaco. Teve uma sensação de que iria morrer!

Parou seu carro na faixa direita da pista para tentar restabelecer o controle sobre seu corpo e suas emoções. Um engarrafamento se formou atrás dele, com muitos carros buzinando, e os motoristas passavam por ele muitas vezes xingando-o.

Cerca de cinco minutos depois, o sentimento de pânico foi diminuindo, e ele foi capaz de chegar ao trabalho. Durante o resto do dia ficou apreensivo se conseguiria passar novamente pela ponte sem ter um novo ataque de pânico.

Foi capaz de fazê-lo naquele dia, porém experimentava bastante ansiedade toda vez que se aproximava da ponte. Em três ou quatro ocasiões teve ataques de pânico recorrentes. Depois os ataques começaram a acontecer diariamente, e ele começou a ter medo de sair de casa. Freqüentemente inventava desculpas para não ter que ir trabalhar, por medo de ter uma nova crise.

João sabia que seu medo de dirigir sobre aquela ponte era irracional, mas também achava possível ter algum problema cardíaco.

Consultou o seu médico, e depois de vários exames, não foi encontrado nada mais grave. O seu caso era de ansiedade excessiva.

Nos meses seguintes, João lutou contra aquele medo dirigindo sobre a ponte, porém não teve muito sucesso. Faltava cada vez mais do trabalho!

Finalmente, teve uma licença e foi aconselhado a buscar um tratamento. Ficou bastante relutante em buscar ajuda, pois acreditava ser uma “fraqueza” o que estava acontecendo com ele. Começou a ficar em casa cada vez mais, recusava convites para sair com a esposa e os filhos. Nas vezes em que precisava sair de casa e dirigir, mesmo que por poucos quilômetros, voltava a sofrer ataques de pânico, e assim foi se tornando cada vez mais recluso.

Como no relato deste personagem, existem muitos Joãos por aí. Pessoas que sofrem de transtorno do pânico com agorafobia. Mas o que exatamente caracteriza este transtorno?

O transtorno do pânico é decorrente de uma desordem de ansiedade, onde há “crises” de medo intenso que começam a aparecer de forma recorrente. Esses ataques duram em média 15 minutos, mas são relatados pelos pacientes, como minutos terríveis, como se nunca fossem acabar.

Um ataque de pânico representa um “alarme falso” onde uma ansiedade intensa é vivenciada. Então, após o primeiro ataque, algumas pessoas ficam apreensivas e hipervigilantes quanto a manifestações físicas da ansiedade.

Freqüentemente, o transtorno do pânico vem associado a outros transtornos ansiosos, como o de agorafobia (ansiedade ou evitação de locais ou situações da qual escapar poderia ser difícil ou embaraços).  Alguns ativadores típicos da agorafobia são o esforço vigoroso, estar sozinho, dirigir sobre pontes ou túneis, multidões, lugares altos, aviões, elevadores… Todas essas situações envolvem o tipo de estresse associado ao perigo.

Como todos os transtornos de ansiedade não tratados, o transtorno do pânico e a agorafobia podem resultar numa combinação debilitadora de ansiedade e depressão. Não é incomum que o problema persista durante anos. Algumas pessoas ficam tão incapacitadas que não conseguem mais trabalhar. Outras, de sair com amigos, viajar, e em casos extremos, podem até não sair de casa.

Com todos os prejuízos que podem existir, o melhor é buscar ajuda. Normalmente o tratamento é realizado pelo psiquiatra e pelo psicólogo.

Quanto mais cedo for detectado e tratado o transtorno, menos sofrimento para o paciente sua família.

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