Contar histórias é uma das tradições mais antigas que permanecem no nosso cotidiano. Nos velhos tempos, as pessoas se sentavam ao redor da fogueira para se esquentar, alegrar, conversar e contar casos. As pessoas que vinham de longe, de outros estados e países contavam e repetiam histórias para guardar suas tradições. E com isso, as histórias foram se incorporando à nossa cultura.
E foram sendo incorporadas no nosso dia – a- dia através das histórias contadas pelas mães, babás, avós… que sempre liam para as crianças na hora de dormir, como forma de acalentá-las.
E não existe dúvida! A maioria das crianças ficam fascinadas ao escutar as histórias. Mas porque será que as elas exercem todo esse encanto no mundo infantil?
As crianças são muito imaginativas e tem uma linguagem própria para comunicar seus sentimentos. A sua forma de comunicação é bem diferente da do mundo adulto. Por isso se queremos alcançar seus sentimentos precisamos falar a linguagem das crianças, que são através de metáforas, brincadeiras e histórias. Falar por meio de contos, fazer uma encenação com bonecos e fantoches, representar o que se quer dizer através de desenhos, pinturas, é usar a linguagem natural da criança que é a da imaginação.
Por isso que os psicólogos infantis utilizam de todos esses recursos para acessar os sentimentos mais profundos das crianças e assim ajudá-las a superar suas dificuldades.
Uma história terapêutica funciona como um caminho para o mundo infantil. Normalmente há uma boa aceitação por parte da criança quando a história é bem escolhida. Neste caso a criança ouve com atenção porque você entra no mundo dela com todo cuidado e compreensão. Contar-lhe uma história é uma forma indireta de se comunicar com a criança. É muito menos invasiva do que dizer “Agora vamos falar por que você está batendo nos seus colegas de escola…” ou “Por que você tem ciúmes da sua irmã…”
Uma história terapêutica fala dos problemas emocionais da criança, mas dentro do domínio da imaginação e não dentro do domínio da cognição. E não é por acaso que em meio a tantos contos, a criança se identifica com um, e pede para a mamãe repetir incansavelmente a mesma história ou parte dela. Na repetição de uma mesma história, a criança elabora fatores emocionais que estão implícitos naquele conto.
As crianças ainda não têm estratégias sofisticadas (como os adultos) para administrar sentimentos intensos ou dolorosos. Por isso muitas vezes vão expressar suas emoções através de determinados comportamentos, como demonstração de ciúme, agressividade, fazer xixi na cama, apresentar dificuldades de aprendizado, ansiedade, medos, pesadelos, hiperatividade, entre outros. Qualquer um desses sintomas podem se desenvolver decorrente de um conflito na criança, a não ser que a criança possa ter uma ajuda para lidar melhor com suas dificuldades.
Os velhos contos de fadas também são muito importantes na elaboração dos conflitos infantis, pois são histórias cheias de fantasias e lidam com sentimentos fundamentais do ser humano: o medo, a angústia, o ódio, o amor, a alegria. Permitem à criança exercitar através da imaginação, soluções para problemas concretos da vida.
O momento de contar histórias é, acima de tudo, um momento de alegria e satisfação. Contribui de forma ímpar para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional da criança. O simples ato de narrar ou ouvir um conto permite a criança vivenciar uma aprendizagem significativa, trabalhando-se o lúdico e o imaginário infantil.
De acordo com Sunderland (2005), a história bem elaborada é bem aceita porque a mensagem é expressa de fora indireta. E é justamente por isso que traz mudanças. Uma história para ajudar a criança a lidar com seus sentimentos é como dizer “Vamos observar a vida desses personagens em vez de olhar pra você”. Assim, a criança não se sente exposta, embaraçada, humilhada ou envergonhada. Afinal, é o personagem do livro que está tendo aqueles sentimentos, e não a criança. Indiretamente a mensagem é absorvida pela a criança e a mudança acontece.