Todos nós temos manias, como colocar os livros ou os DVDs na estante em ordem alfabética, não deixar o chinelo virado, conferir algumas vezes se a porta realmente está trancada, entrar em casa com o pé direito, bater três vezes na madeira quando falamos ou pensamos uma coisa ruim.
Medos e preocupações fazem parte do nosso dia-a-dia. Aprendemos a conviver com eles tomando certos cuidados. Conferimos as portas antes de deitar, lavamos as mãos antes das refeições e assim por diante.
Porém manias mais intensas, que interferem diretamente no cotidiano, como lavar as mãos seguidamente, revisar portas e janelas diversas vezes antes de dormir ou checar se o gás está desligado a todo o momento, por exemplo, quase sempre nos deixam receosos.
Essas preocupações e comportamentos repetitivos, entretanto, podem se tornar claramente excessivos, quando repetidos inúmeras vezes em um curto espaço de tempo e quando acompanhados de grande aflição. É comum, ainda, pelo tempo que é gasto, que comprometam as rotinas e o desempenho no trabalho. Isso configura o que, de forma convencional, chamamos de obsessões ou compulsões, sintomas característicos de um transtorno bem mais comum do que se imagina, o transtorno obsessivo- compulsivo (TOC).
O TOC é um transtorno de ansiedade com uma base neurobiológica. Esta condição cerebral afeta o modo como as crianças, adolescentes e adultos pensam. Caracteriza-se por pensamentos obsessivos e compulsivos no qual o indivíduo tem comportamentos considerados estranhos para a sociedade, para a família ou para a própria pessoa; normalmente trata-se de idéias exageradas e irracionais de saúde, higiene, organização, simetria, perfeição ou manias e “rituais” que normalmente são incontroláveis.
Na psicologia, consideramos a obsessão como pensamentos ou imagens intrusivos e recorrentes que o indivíduo considera indesejável, e dos quais tenta se livrar. O comportamento repetitivo pelo qual ele tenta se manter livre é conhecido como compulsão.
Normalmente, a sequência típica que marca o TOC é:
– Primeiramente há o surgimento de pensamentos que parecem invadir a mente, sem nenhuma razão aparente;
– Depois há um sentimento de que tais pensamentos são desagradáveis ou indesejáveis;
– Urgência em suprir ou eliminar tais pensamentos da mente;
– Urgência de aplacar esses pensamentos por meio de certos comportamentos compulsivos.
Com o TOC a pessoa experimenta esses pensamentos desagradáveis como algo que está além do seu controle. Os pacientes obsessivos estão, em geral, cientes de que há algo irracional em seus pensamentos, mas mesmo assim ficam “presos” neste comportamento.
Mas como vimos acima, não só os adultos sofrem com o TOC. Este transtorno também afeta crianças e adolescentes. Crianças, por vezes descrevem suas obsessões como “maus pensamentos” ou receios ou preocupações – e por vezes elas têm muitas dificuldades de colocar em palavras o que está incomodando-as.
Algumas crianças e adolescentes conseguem suprimir ou esconder seus sintomas, porque eles temem punição ou ridicularizarão em casa ou na escola. Em ainda outros casos de TOC, uma criança ou adolescente é incapaz de evitar ou resistir às compulsões que “desfazem” os maus pensamentos e os fazem se sentir melhor temporariamente.
De fato, manias, medos e preocupações fazem parte da nossa vida. No entanto, eles podem se tornar excessivos quando muito repetidos em um curto espaço de tempo e, principalmente, se surgem acompanhados de angústia e sofrimento. Neste caso é importante uma avaliação para detectar se são apenas “manias” sem prejuízos ao paciente, ou se o quadro pode ser de transtorno obsessivo- compulsivo.
O obsessivo-compulsivo, ao contrário de pessoas que têm manias comuns, sofre muito devido com este malefício. Já a simples mania, conforme o dicionário Houaiss, “é a prática repetitiva, o costume esquisito, peculiar, a excentricidade”. Mania de passar a mão nos cabelos ou de calçar-se sempre começando pelo sapato do pé direito, por exemplo. Casos bem diferentes pelos quais passam portadores de TOC.
Os adultos, bem como as crianças e os adolescentes se beneficiam bastante de uma terapia, normalmente a terapia cognitivo-comportamental. Esta terapia vai ensiná-los novas maneiras de pensar e responder aos pensamentos e aos comportamentos indesejáveis. Aprendem a treinar o seu cérebro a responder de forma mais precisa e funcional.