Vou lhe contar uma história…
“ Maria trabalha numa empresa como representante, adora o seu emprego, gosta de estar no meio de outras pessoas, apresentar e vender os seu produtos… enfim, é uma funcionária bastante dedicada! Só tem um detalhe, frequentemente precisa viajar de avião pela empresa. Aí começa toda a tortura! Dias antes da viagem, ela começa assistir ao canal do tempo, a fim de verificar se vai haver alguma chuva forte, acorda várias vezes à noite pensando no vôo e em como se sentiria aliviada se a empresa cancelasse a viagem ou permitisse que ela fosse de carro (mesmo sabendo que teria que dirigir o dia inteiro e seria extremamente cansativo). Começa a se lembrar de todos os acidentes aéreos que ouviu falar, lembra de todos os pousos de emergência que viu no noticiário, e neste momento o seu coração está acelerado, a respiração difícil… o medo intenso toma conta de Maria. Ela começa a rezar incessantemente para poder ficar calma na hora da viagem! Ela precisa enfrentar o seu medo, pois precisa do emprego! Vai para o aeroporto, e quando entra no avião tenta relaxar, mas parece impossível! Quando fecha a porta da aeronave, aí sim, parece desesperador… Maria sente que dessa vez o avião vai cair. Ela tem certeza! Ela pensa na mãe, no namorado, em tudo que vai deixar de fazer… e a ansiedade aumenta. Maria tenta controlar, respira fundo. Mas não adianta, está apavorada! Durante toda a viagem, fica atenta a todos os barulhos, a expressão das comissárias de bordo, verificando se existe algum problema. Fica dura na cadeira, tensa, agarrada nas poltronas, desejando a todo o momento que aquele sofrimento acabe rápido. E o que Maria acha mais interessante é, como todas aquelas pessoas que estão no vôo parecem tão tranquilas, conversam entre si, algumas dormem!!! Isso realmente parece impossível! E quando a aeronave enfim aterrissa, Maria está exausta, mas aliviada!”
Maria é uma pessoa corajosa, sem outros medos, porém quando pensa em viajar de avião, aciona o seu medo intenso. Ela sabe que seu medo é irracional, mas mesmo assim não consegue mudar. Com frequência prefere se deslocar de carro, mesmo sabendo que em termos estatísticos, dirigir é mais perigoso que voar.
Maria é uma personagem fictícia, porém inúmeras outras Marias existem, e passam por todo este sofrimento todos os dias. Mas o que a nossa personagem tem? Maria tem o que chamamos de Fobia Específica.
A palavra fobia deriva de Phobos, deusa grega do medo. Portanto, a fobia é o medo patológico, focalizada em objetos ou situações que podem ser consideradas inofensivas por outras pessoas, e que persiste mesmo depois que o paciente se dá conta da irracionalidade de seu medo.
Chamamos de específica porque não é um medo generalizado, de tudo, mas de algo específico. Fobia de aranhas, de altura, de sangue, elevador, dirigir, voar… são alguns exemplos.
É fundamental distinguirmos medo de uma fobia. Medo, receio, todos nós temos, porém no caso da fobia, a ansiedade que vem com o medo deixa de ser normal e passa a ser uma ansiedade patológica. Essa ansiedade, desencadeada pela presença ou antecipação de um objeto ou situação específica, gera muito mal estar, podendo chegar a uma crise semelhante a de pânico.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV), “a característica essencial da Fobia Específica é o medo acentuado e persistente de objetos ou situações claramente discerníveis. A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase que invariavelmente, imediata resposta de ansiedade. Esta resposta pode assumir a forma de um ataque de pânico, ligado ou predisposto pela situação. Com maior frequência, o estímulo fóbico é evitado, embora às vezes seja suportado com pavor”.
Podemos definir a fobia específica em alguns subtipos:
• Tipo Animal; este subtipo deve ser especificado se o medo é causado por animais ou insetos; em geral tem início na infância. Ex. Borboleta, aranhas, cobras, etc.
• Tipo Ambiente Natural; este subtipo deve ser especificado se o medo é causado por objetos do ambiente natural, tais como tempestades, alturas ou água.
• Tipo Sangue-Injeção-Ferimentos; neste, o medo é causado por ver sangue ou ferimentos, por receber injeção ou submeter-se a outros procedimentos médicos invasivos. .
• Tipo Situacional; este subtipo é especificado se o medo é causado por uma situação específica, como andar em transportes coletivos, túneis, pontes, elevadores, aviões, dirigir ou permanecer em locais fechados. .
• Outros Tipos; neste subtipo deve ser especificado se o medo é causado por outros estímulos, que podem incluir: medo ou esquiva de situações que poderiam levar à asfixia, vômitos ou contração de uma doença; fobia a “espaço” (isto é, o indivíduo teme cair se estiver afastado de paredes ou outros meios de apoio físico), e medo de sons altos ou personagens em trajes de fantasia, em crianças.
O diagnóstico deve ser realizado por um profissional habilitado, e é apropriado apenas se a esquiva, o medo ou a antecipação ansiosa do encontro com o estímulo fóbico interferem significativamente na rotina diária, funcionamento ocupacional ou vida social do indivíduo, ou se ele sofre acentuadamente por ter a fobia.
Caso possa trazer prejuízos significativos a vida da pessoa, ela deve buscar ajuda psicológica para que possa ter condições de lidar e superar suas dificuldades!